Pânico Satânico e o caso do “Baralho do diabo”: O nascimento da cruzada moral contra os jogos no Brasil
Abstract
No início da década de 2000, popularizaram-se no Brasil discursos que acusavam jogos, filmes, músicas e outras mercadorias da indústria do entretenimento de promoverem degeneração cultural e manipulação política de jovens. Essas declarações argumentavam que determinados produtos, subliminarmente ou explicitamente, corrompiam a juventude, conduzindo-a ao satanismo e ao comunismo, na medida em que promoviam a homossexualidade e influenciavam condutas violentas, que acabaram servindo de justificativa para a produção de cruzadas morais que visavam sua criminalização. O presente artigo tem por objetivo investigar empiricamente alguns dos efeitos práticos da versão brasileira do pânico satânico – uma espécie de pânico moral - criado para os jogos. Para tanto, foram analisadas algumas das memórias sobre uma série de matérias exibidas no ano de 2003 no programa “Boa noite Brasil” da TV Bandeirantes em que card games e jogos de RPG foram associados ao satanismo. Os relatos foram coletados a partir de comentários proferidos por usuários que possuem perfis em plataformas online como o Reddit, Youtube e Discord e demonstram as consequências práticas do uso político do medo, sobretudo, por meio das mídias digitais
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