Alvares, D., Da Silva, M. Revista de Filosofía, Nº 99, 2021-3, pp. 380 - 398 397
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diferente, esse diferente, ao mesmo tempo, não necessita ser inovador em sua essência, e
sim, algo que possa aprofundar a extração do sobre trabalho. Ao mesmo tempo em que o
processo inovador é revolucionário, ele carrega consigo a estrutura conservadora do capital.
Com toda sua clareza permitida, Drucker reforça a ideia de que o grande objetivo é o
sucesso, sem riscos. Não existe o meio termo, sua oposição é o fracasso. Duas sínteses
trazemos aqui, 1) a aparência do capital se apresenta como uma roda virtuosa de sucessos,
de crescimentos, de ganhos, de alegrias, já as perdas são colocadas para debaixo do tapete,
não simplesmente para encobri-las, mas, o mais importante, reforçar que o sucesso só existe
se conseguir fazer fracassar sua concorrência, derrotá-la, seja jogando a outra empresa à
bancarrota ou incorporando-a, e 2) sucesso é só uma faceta minoritária, componente
fundamental do mecanismo do capital, em sua concorrência, produzindo o fracasso de
muitos. Portanto empreender é uma síntese para produzir muitos fracassados.
Não é à toa que para valorizar os vitoriosos necessita de derrotados, a maioria. Os
mais fracos, necessários, são tragados na política do capital. Em uma das suas faces mais
perversas, como no neoliberalismo, a concorrência é crescente, suas consequências mais
visíveis são os altos índices de desemprego, de quebras de empresas, de aumento da miséria
e de um processo desenfreado de concentração de capital e os mais ricos ficando mais ricos.
Dentro desse mecanismo implacável não é estranho a volta de uma política fascista,
entrelaçada à cultura de morte, a eliminação dos considerados fracassados, daqueles que
atrapalham os vitoriosos, os fortes, os belicosos.
Não é surpresa ver o empreendedorismo na lógica fascista, como exemplo, as milícias
e seus negócios: distribuição de gás, construção de prédios, telefonia móbil, internet, enfim,
num controle vil misturado com monopólio, da destruição da concorrência pela ameaça,
crimes e outros mecanismos de extermínio daqueles que se opõe. Até as desgraças sociais
podem ser um espaço de novas oportunidades, algo a ser objetivado, planejado. Claro que
isso não é estranho ao capital, toda a ação humana respondendo às suas necessidades é
transformada em mercadoria, a diferença é o empreendedorismo colocar-se como uma
novidade glamourosa diferente do próprio capitalismo.
Como todo defensor do empreendedorismo na atualidade, Drucker vai apontar a
importância da percepção e o aproveitamento das oportunidades como uma das grandes
chaves de leitura para o sucesso do empreendedor. Situação esta devidamente calculada em
seus riscos sempre frisando que o sucesso não é para aventureiros. Cita o exemplo da nova
forma organizacional japonesa, ‘toyotismo’, mais importante do que a própria tecnologia
desenvolvida naquele país. Como parte deste modelo veio o ‘karoshi”, morte por excesso de
trabalho, e, inexplicavelmente, esta parte não é abordada por Drucker. No entanto, o próprio
Drucker ressalta a possibilidade de ganhar recursos, empreender, com a tragédia humana.
Drucker cita vários exemplos, nem todos necessariamente de grandes somas, mas de
inculcação e de modificações de práticas nessa mudança da hegemonia empreendedora,
como das mulheres entrando como gerentes, ou de venda de enciclopédias, como forma de
transformar a organização capitalista, tentando destruir a identidade, a organização e a luta