MOREIRA, Elaine et al (2020) Tempo de Pandemia. Propostas para a defesa da vida e de direitos sociais. ESS Universidade Federal de Rio de Janeiro. Pp. 155

“Como será o amanhã? Responda quem puder...” perguntas com estas colocadas pelo Samba Enredo da União da Ilha de 1978, composto por João Sérgio, certamente tem passado pela cabeça de todas/os nós. Como será nosso futuro?

O ano de 2020 ainda está no início, mas a humanidade já foi impactada pela proliferação mundial do novo coronavírus. A Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou, no dia 11 de março, tratar-se de uma pandemia. Na ocasião, eram 118 mil casos em 114 países, com 4.291 mortes por conta da doença. Um momento histórico que do qual ninguém desejaria participar. A COVID-19 vem afetando todos os continentes do globo, indistintamente. Em maior ou menor proporção, ninguém fica de fora.

No momento que fechamos a redação desse livro, dia 25 deabril, segundo dados da BBC havia 2.775.738 casos confirmados oficialmente, sendo 197.199 mortes em razão da doença em todo o mundo. Entre os mais impactados estão as duas principais potências mundiais: Estados Unidos, com o maior número demortos, 51.864 pessoas e a China, o nono país com mais mortes, 4.636. O Brasil, apesar de ter um avanço da doença mais tardio do que muitos outros países, possui 3.704 pessoas vitimadas e já é o 11° país entre os mais afetados.

Para agravar nossa situação, o governo federal tem “batido cabeça” sobre que linha adotar no combate à doença. Desde o início da pandemia, o presidente da República diverge publicamente das orientações da Organização Mundial de Saúde, classificando-a como uma “gripezinha”. Além disso, declarou em rede nacional que “vão morrer alguns sim”, com aparente tranquilidade; refuta as medidas mais rigorosas de isolamento social, indicadas por órgãos nacionais e internacionais alegando que prejudicam a economia. Pouco mais de um mês após declarada a pandemia, a queda de braço interna resultou na demissão do Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Em seu lugar foi nomeado Nelson Teich, que no breve discurso de posse, defendeu a testagem em massa. Não explicou, todavia, como conseguirá esse feito, já que a indisponibilidade de testes vem sendo noticiada desde o início da pandemia.

No final do dia 13 de março, a Direção e os técnicosadministrativos da Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ESS/UFRJ) se reuniram para pensar como proceder diante de tão avassaladora situação. Nesse primeiro momento, as aulas na universidade estavam sendo suspensas temporariamente e a UFRJ pensava sobre o funcionamento do restante das suas atividades. Desde a declaração da pandemia mundial, aqui no Brasil, estamos vivenciando momentos de tensão, medo, expectativa, mas também de reflexão, solidariedade e acolhimento. Imbuído dos sentimentos de solidariedade e acolhimento, além do compromisso ético e político com a sociedade, o Conselho Diretor da ESS propôs aos/as seus/suas servidores/as, que pudessem e desejassem elaborar reflexões sobre o período da pandemia para serem socializadas em formato de livro. Os textos aqui apresentados demonstram que é parte do compromisso social da universidade pública brasileira, entre outras atribuições, refletir sobre os grandes dilemas de nossa sociedade. A intervenção concreta da universidade nestem período está mais restrita às unidades de saúde, aos hospitais universitários e à pesquisa na área de enfrentamento direto da pandemia. Mas, as atividades administrativas, de estudo e planejamento possíveis de serem feitas remotamente estão tendo continuidade, ainda que de modo distinto, por contadas medidas de isolamento social. A UFRJ já deliberou que o calendário acadêmico será redefinido quando as atividades presenciais forem retomadas. Também destacamos as redes de solidariedade provenientes, especialmente, do diálogo, promovido historicamente, com as comunidades e coletivos via extensão universitária.

É importante frisarmos que as universidades e instituições públicas estão protagonizando a formulação de respostas para a prevenção, o controle, o tratamento e a busca da cura para o novo coronavírus. A UFRJ vem se destacando na produção de máscaras, na viabilização de leitos e nas pesquisas nos laboratórios para desenvolvimento de vacinas e tratamento.

Mesmo sofrendo ataques diretos pelo atual ministro da Educação, podemos afirmar que a universidade vem se colocando como protagonista nesse processo. Nós, da Escola de Serviço Social, também assumimos essa tarefa através da organização de um livro que apresenta análises e propostas.

Um dos objetivos fundamentais deste livro é realizar um diálogo com toda a ESS, organizações parceiras, supervisores/as de campo de estágio e a comunidade em geral. Os textos aquí apresentados revelam a diversidade de temas com os quais o corpo social de nossa unidade se envolve. Acertadamente, todos têm no horizonte a defesa da democracia e dos direitos humanos. Mais do que nunca, estes princípios precisam ser reafirmados. Temos visto diversas situações individuais e posicionamentos de instituições e autoridades brasileiras durante esse período de isolamento social que demonstram a fragilidade da democracia brasileira e a necessidade de defendê-la, se não quisermos aprofundar a barbárie capitalista.

O livro está organizado em três seções. A primeira, traz o debate da economia versus a vida, o fracasso do modelo neoliberal, o agravamento da questão social com seus determinantes de classe, raça e gênero, o acesso desigual ao fundo público nesse contexto e as expectativas sobre o rumo das relações sociais após a passagem da pandemia.

A segunda seção contém análises das políticas sociais públicas e o papel da proteção social estatal nesse contexto. Destaca-se o temada alimentação, da saúde, em particular da população negra, da população moradora das favelas, da população encarcerada e da política de assistência social, com seus serviços criados com o Sistema Único da Assistência Social (SUAS) em 2004 até o recente auxílio emergencial aprovado pelo Congresso Nacional como uma medida de proteção social diante dos impactos da pandemia.

A terceira seção apresenta uma série de estudos que envolvem os sujeitos sociais em suas relações familiares, no trabalho e no seu território diante de suas demandas cotidianas da vida doméstica, do trabalho, do cuidado com os demais. Particularmente, envolvendo os papéis sociais atribuídos às mulheres no cuidado com a família, as crianças e os idosos.

Aos estudantes, técnicos e docentes, pedimos que partilhem esse livro com sua rede de contato e desejamos, verdadeiramente, que este material possa trazer informações e proporcionar trocas entre nós e com a comunidade em geral.

Ao todo são 20 textos que nos provocam e convocam a pensarmos sobre nosso presente e futuro. Que os desafios do tempo presente instiguem os povos em coletivo e cada um de nós em particular a rever e recriar relações sociais que priorizem a vida sem qualquer tipo de discriminação, a preservação da natureza e seus recursos para que possamos ter mais esperança em como “será o amanhã”.

Miriam Krenzinger Azambuja.

Universidade Federal de Rio de Janeiro. Brasil

E-mail: miriamufrj@gmail.com